Três princípios de religião comparada
A saber: o sagrado, a construção dos textos sagrados e o cerne da teologia.
O sagrado
O sagrado foi inventado na pré-História pela necessidade do chefe de família, em grande parte homens, de lidar com o exército de esposas e demais mulheres do clã.
Homens são caçadores e coletores. Eles colecionam. Levam todo tipo de tranqueira para a caverna. E lá deixam.
E não limpam.
Nem jogam fora.
A mulherada fica puta com a bagunça e passa o rodo, joga fora o que não presta e ainda reclama.
O homem resolveu seus problemas apelando para a noção de sagrado.
Shiu, mulher. Isso aí é sagrado. Não pode mexer.
Colou.
Mas a partir daí o homem teve de manter a mentira, o que deu origem às religiões.
A construção dos textos sagrados
Harold Bloom tinha a hipótese de que a Bíblia ou pelo menos grande parte do Pentateuco tinha sido escrita por uma mulher.
Difícil de provar, mas a hipótese escoa uma intuição que assombra a humanidade: mulheres gostam de história, mulheres adoram fanfic, textos sagrados são construídos como fanfic. Et uga-buga.
A diferença teórica entre história e fanfic só passa a existir depois da emergência da ideia de direitos autorais, que por sua vez só passou a ter vez diante do culto à noção de originalidade.
Originalidade é um valor romântico.
Além de vender perfumes, poemas e remédios para tuberculose, o romantismo legou à humanidade outros sucessos comerciais, como a ideia de proteger os direitos do autor e, com isso, lucrar com a venda de produtos licenciados.
O que virou negócio depois dos românticos nunca deixou de ser visto como algo essencial: quem controla as fontes controla a narrativa.
Se o sagrado surge como domínio eminentemente masculino, de proteger os cacarecos da fúria sanitária das mulheres, a construção dos textos sagrados ocupa o polo oposto, feminino, o olhar de revolta da mulher de “mas quem vai limpar esta merda?” e a ideia de que textos sagrados podem ser uma resposta.
Entra aí Gutenberg, Lutero e outros cuecas que foram cantar de galo. Como resultado, guerras civis e religiosas, séculos delas.
O cerne da teologia
Aristóteles creditava ao espanto (o “Como pode?!”) o início do pensamento filosófico.
A magia é atribuída por magos e antropólogos à consciência das necessidades. Essa mesma gente ignora Aristóteles e ainda hoje atribui a religião ao medo.
O temor do homem a respeito de tudo o colocava na direção do culto. No entanto, isso só explica o próprio culto à ciência e o culto à crítica às outras religiões.
Ciência, filosofia e religião partem da mesma fagulha que Aristóteles bem identificou.
Mas cada um é um campo distinto, com objetos e objetivos próprios.
O espanto, na religião, é gestado como inquietação.
À inquietação, o ser humano apela ao deus Uga-Buga, o primevo e mais arcaico entre as divindades.
Quando o ser humano se vê diante do que não entende, a primeira reação é tentar destruir o objeto de sua incompreensão.
Quando não consegue destruir o objeto, o ser humano se põe a dançar em volta desse objeto cantando uba-buga até que o deus Uba-Buga destrua esse objeto inquietante e traga paz e conforto ao grupo.
O cerne da teologia é a natureza insondável do deus Uga-Buga.
O resto é o Tao, ainda mais insondável que o deus Uga-Buga, inclusive gramaticalmente.



