
Sobrado
Cena 1.
A damp hole.
Uma sala escura.
Pedro joga pedras do oitavo andar. Ele está sentado no chão, as costas contra a parede da janela. Ele atira as pedras e às vezes elas batem acima da janela e caem no chão ou sobre ele. Oito andares não são suficientes para machucar muito, mas podem machucar bastante, ele fizera as contas.
Ele ouve a irmã, na outra sala. Ela esbarra nos móveis. Os tênis dela estão na frente de Pedro, encostados na parede oposta. As meias silenciam os passos da irmã.
Quando as pedras acabam, Pedro pensa em jogar os tênis da irmã. Ele tira a blusa, cospe nela e tenta atirá-la para fora. Na quarta tentativa consegue. Não havia sangue em seu cuspe, nem catarro escuro.
Há um terceiro quarto, que estava vazio, deveria estar. Alguém empurra a cama. Pedro ouve rangidos, depois o começo da música muito velha. Alguém toca mal no terceiro aposento. Antes que ele reconheça a música, o violino silencia, então Pedro vê o que vai acontecer, ele já viu antes, o violino é levantado à altura do ombro e depois é atirado contra o chão. Pedro vê o instrumento se despedaçando, o braço do violino se parte, ele vê as cordas frouxas, a caixa rachada. Ele só escuta o barulho da queda, mas viu a cena acontecendo antes.
Quem estava no terceiro quarto abre a porta. A irmã de Pedro está na porta. Ele pode ouvir a voz monótona da irmã:
— Você ainda não terminou essa droga?
Ele não ouve a resposta de quem está no terceiro quarto.
— Que droga. Eu vou dizer para ele então.
Pedro agora consegue ouvir os passos da irmã. Ele pode imaginá-la com a camiseta regata branca e o rosto com manchas de chocolate. Há um broche espetado na barra da bermuda. Ela está indo para o quarto onde ele está. Quando a irmã abre a porta Pedro não está mais lá.
Carla esperou. O relógio da sala, no andar de baixo, anunciava cada quarto de hora. Todo o quarto estava tomado de pó e folhas. Ela, porém, não fechou as janelas. As cortinas balançavam, a claridade do sol entrava pela janela. Carla mordeu de leve o pulso esquerdo. Enquanto sentia as marcas dos dentes, olhava para o chão e para os pés. As meias estavam sujas de pó.
O relógio da sala anuncia mais quinze minutos. Carla se joga sobre a cama de molas, seu corpo afunda, é impulsionado para cima, cai de novo. Ela retira as folhas que alcança e se ajeita sobre a colcha, ela faz dobras com o tecido grosso e acomoda a virilha sobre as dobras. Uma das mãos está sob o queixo, a outra mexe em seu cabelo.
Por que eu cortei este conto?
Impressão minha, a de que este conto traz um corpo meio escavado, com alguns ossos à mostra, mas sem uma resolução satisfatória entre as partes expostas e as partes aparentes, as parte narrativas e comuns dos contos.
Não tem punch, clímax ou desfecho de impacto, a menos que o leitor aceite como impacto a surpresa e o inesperado de o conto simplesmente terminar.
E Mariana já tinha exemplos suficientes.
No entanto
No entanto, o conto traz irmãos e alguma tensão entre eles. Fica difícil não recomentar Daily Strip. Revisei o romance, subi uma versão nova na plataforma da Amanon (e não é preciso ter um Kindle para ler, basta o aplicativo).
Sinopse? Em Daily Strip, ao longo de uma semana, a irmã mais velha e o irmão mais novo travam uma guerra fria pelo controle da família.Ao longo de uma semana, a irmã mais velha e o irmão mais novo travam uma guerra fria pelo controle da família. Como uma partida de Xadrez, parentes, amantes, amigos e conhecidos são tratados como peças a serem protegidas ou sacrificadas pelo domínio do tabuleiro. E tem humor, incesto, velórios e festas.


