Jogo e regras
Todo problema que não pode ser resolvido no curso de uma geração é uma condição e não um problema.
Toda causa, como a causa palestina, tem uma conseqüência. (Por exemplo, a conseqüência palestina.)
Toda questão meramente descritiva é falácia genética e não questão.
Toda questão pertence necessariamente a uma hierarquia. Toda hierarquia fala do que não é vital. (Você não morre se não responder uma questão, você não morre se ignorar a questão do meio ambiente.)
Toda questão vital ou é um problema ou é uma condição.
Toda questão só existe se for urgente.
Toda condição pode ser usada impropriamente.
Até hoje não entendo o apelo de Kafka (fora da literatura)
A primeira impressão é que tomam ele por grande por ter dito muito sobre o século o XX.
A segunda impressão é que Kafka não passa de leitura recreativa para essas gerações doutrinadas com a democracia representativa.
O grande fantasma da democracia representativa é o totalitarismo, é sua sombra, seu par.
E um crítico ranzinza observaria que K não queria derrubar o Castelo, queria apenas um lugar nele.
Kafka como condenação da política moderna.
Sei, sei.
E os livros?
Aparte de 2024:
Sei que perguntar da obra soa como a tia perguntando “e os namoradinhos?”
Dez mandamentos e mais dois
Embora Jesus tenha falado de dois mandamentos nas escrituras, sempre me ensinaram o decálogo.
Por que os dez mandamentos? Não sou hebreu, sequer judeu.
Além disso, os dez mandamentos são contraditórios entre si.
Por exemplo, não posso cobiçar a mulher do próximo, mas também não posso roubar.
Como honrar pai e mão se não pode matar?
Ou pecar contra a castidade ou guardar domingos e dias santos.
O resultado é a demência.
Jesus é que tinha razão.
Sonhei que haviam transferido a praia para São Paulo, num tipo de promoção:
Por duas semanas as pessoas podiam ir à praia. Havia agora orlas e as pessoas podiam atravessar um calçadão e chegar à areia.
Enquanto todo mundo queria ir para as praias cariocas eu tentei ir para o outro lado da cidade, que não era mais São Paulo, mas minha cidade natal, para conhecer as praias nordestinas.
No meio do caminho fui questionado por amigos e familiares se eram mesmos todas as praias dos outros estados que estavam na promoção e comecei a duvidar do meu empreendimento.
Minha irmã sugeriu andar mais um pouco, em outra direção, e talvez pegar um ônibus, e chegar a alguma das praias do sul.
Cheio de dúvidas, comecei a acordar.
No sonho, estávamos andando de carro
Íamos sair para uma viagem e demoramos a nos agrupar e entrar nos carros. Nesse tempo um assassino serial passou a nos rastrear. Era do tipo que usa um facão.
Na hora de nos registrarmos no hotel, tentamos ficar nos mesmos andares, mas o assassino se registrou junto e pegou um dos quartos num dos andares que ocuparíamos.
Fui para o meu quarto pensando em como escapar e como avisar os outros. Achava que só eu sabia da situação.
Terror noturno
Não lembro quando começou nem quando terminou. Foi antes de minha irmã caçula nascer. Um ou dois anos antes? Entre os oito e os dez anos. Acho que começou antes.
Meu terror noturno era a fantasia de que havia uma procissão de criaturas monstruosas que atravessava meu quarto. Essa procissão começava alguns minutos depois de eu ter me deitado e durava até pouco antes de eu pegar no sono.
Um buraco no meio da parede que dividia meu quarto do quarto de meus pais era aberto toda noite e dezenas ou centenas de monstros, bruxas e demônios atravessavam esse buraco a caminhavam num arco que passava por cima da minha cama, terminando num buraco menor entre o teto e algum ponto acima da cabeceira. O líder da procissão era muito maior que o resto, ele tinha um elmo escuro ladeado por dois chifres. O cavalo dele era preto, de patas grossas. As cores do líder, vários tons de verde que lembravam o da varejeira, eram as cores das luzes dentro do buraco e eram as cores que dominavam a procissão.
Eu sabia que não podia olhar diretamente para o buraco ou para a procissão, sabia que devia me mexer o mínimo possível.
No tempo que isso durou eu não entendia por que Deus permitia isso, por que meus pais não faziam nada nem por que tinha de acontecer justo sobre a minha cama. Nunca falei disso com ninguém. Anos depois descobri mitos sobre as procissões noturnas e a “wild hunt”, mas nenhum registro parecido com o meu.
[Nota de 2024: o chefe das criaturas lembra o Chernabog de Fantasia, da Disney, mas nunca vi Fantasia e quando era criança raramente aparecia trechos da animação nos 3 canais de TV aberta da minha infância.]
O quanto essa experiência marcou a distância que eu imaginava haver entre as outras pessoas e eu? A unicidade, a solidão. Acho que até hoje eu trago a impressão de ter sido aquele menino que viu mais que os outros. E que foi um observador, não um participante. Consegui testemunhar a procissão dos monstros e sair impune. Não consigo disfarçar ou esconder essa impressão.
Ah, sim, lodjinha
Coletâneta de contos de mais de 14 anos atrás: A Visita.
História de monstros, vampiros, presidentes russos e viagem no tempo? O caçador e seu acompanhante.
E o fim dos tempos lá no interior de SP: Lucas, teu avô é o Anticristo.
E sigo apreciando a capa do Daily Strip.