
Não lembro de algo assim no Formspring, mas no Ask um anônimo me disse que me achava minimalista na ficção. Não conferi a quilometragem de leitor do anônimo.
Entendi o que ele queria dizer, mas acho pista falta, porque escolho e adoto técnicas e estilos de escolas diversas. (Estudei no Chrisóstomo, no Augusto Pereira de Morais, no Coração de Maria e no Afonso Pena.)
Há, porém, certa preferência em alguns textos pelo understament e até pelo litotes.
Mas gosto do subentendido porque tira de mim o megafone e deixa para o leitor a disposição para questionar.
Não gosto muito de símbolos, não tenho paciência para com hermetismos. No entanto, sei que o subentendido pode soar como simbólico. E não tenho problema em escrever em público para poucos, ou seja, usando uma linguagem opaca, que só quem tem a chave pode alcançar o sentido.
Tenho até uma cena de Quero dançar até as vacas voltarem do pasto que pode cair no simbólico, quando é apenas subentendido.
Marcos Jr e Gil, adolescente e melhores amigos, estão na sede do grêmio da escola em que estudam. São os presidentes. E estão lá porque dirigem o jornal do grêmio, talvez a publicação relevante das atividades de grêmios estudantis desde os anos 1950.
O todo da cena são lembranças e pensamentos dos dois personagens, com alguma ação e filhotes de gato.
E essa é toda a crítica do meu livro ao estado do jornalismo brasileiro: algo feito por estudantes do grêmio, mas vivido como se fossem dois editores e jornalistas como Mencken ou J. J. Jonah.
Outro autor, até mais competente, poderia colocar um comentário do pai do Marcos Jr. à incúria dos jornais. Talvez a mãe do adolescente pudesse ser vítima do jornalismo. Talvez algum amigo de Tito, o editor, pudesse ser jornalista.
Nada.
Eu não me desviaria da história para um comentário à realidade brasileira nem mesmo para decorar o cenário ou fazer o tal do world building sambante na cara do leitor.
Está ali, pode estar até na cara do leitor, mas sem samba.
Que a imprensa brasileira apareça como comentário espelhado numa cena de dois panacas, sobranceiros e talvez por demais fornidos de dinheiro dos pais, na sala do grêmio estudantil, é suficiente. Mais real. Mais concreto. E, ainda que seja ficção, talvez mais justo na proporção da nossa situação nacional, salve, salve.
E não há símbolo, talvez metáfora para quem se disponha a fazer perguntas quando lê.
E, talvez melhor ainda, salvam páginas para os leitores. O que podia passar das 400 páginas acaba bem contente em quase 200.
Mas é isso minimalismo?
Mesmo com tantos diálogos?
Acho que não.
Mas quem quiser um top5 de influências do Quero dançar até as vacas voltarem do pasto, tem este aqui.